Da vontade em bater com a cabeça na parede

Os debates entre os candidatos às eleições legislativas entram agora na recta final. A pré-campanha está prestes a dar lugar à campanha eleitoral. O momento de decisão aproxima-se – as eleições são daqui a 3 semanas, aproximadamente. E nesta altura, o mais provável continua a ser um empate entre PS e PSD, um cenário onde cada voto conta.

Não consigo deixar de professar genuíno e autêntico espanto pelo facto de José Sócrates continuar a ter reais possibilidades de vencer as eleições de dia 5. O homem responsável pelo estado catatónico das contas públicas, pela concessão da administração efectiva do país a terceiros, um dos piores governantes do Mundo Ocidental ainda tem possibilidades reais de acordar no dia 6 de Junho e ainda ser primeiro-ministro.

De pouco parece valer a opinião de figuras internacionais que, para ser simpático, consideram Sócrates um troca-tintas, alguém a quem não se pode dar crédito e em quem não se pode confiar. Ainda assim, continua a haver pessoas que acreditam mesmo que a culpa de tudo isto é dos estrangeiros, dos capitalistas americanos e europeus e que Portugal ainda existe porque Sócrates está lá para segurar o país.

Pedro Passos Coelho tem de ser um político bastante mau para não conseguir capitalizar sobre a situação do país. Com o desemprego nos 11% – e com expectativas de vir a ser de 13% em dois anos –, o país a ser obrigado a pedir ajuda externa, com o pacote de medidas pesadíssimo que este governo assinou, o PSD não só não tem a vitória garantida como nesta altura a maioria absoluta é uma miragem. Será que a campanha eleitoral vai ser o ponto de partida para a vitória laranja?

Quem está a retirar alguns ganhos disto é Paulo Portas que está a reforçar a posição do CDS no tabuleiro político e parece hoje evidente que o CDS fará parte do próximo governo, liderado por laranjas ou rosas. Os seus 10%-12% garantem isso mesmo, ficando apenas a dúvida sobre se o Executivo será liderado pelo PSD e sem PS, ou pelo PS com o PSD.

Na sua actualização semanal, a sondagem Público/TVI volta a colocar o PSD na frente (na sexta-feira era o PS que surgia à frente nas intenções de voto) mas com uma margem tão pequena que o correcto será dizer que os dois grandes partidos estão empatados: 36,1% para o PSD, 35,4% para o PS. Com 12,6% surge o CDS que neste cenário, mesmo assim, não contribui para a maioria parlamentar de qualquer coligação de dois partidos.

A partir desta sondagem, e fazendo fé nos intervalos de confiança da mesma, todos os cenários continuam abertos. Maioria PSD+CDS, PS+CDS e PSD+PS+CDS e ainda bem que ninguém se lembra de uma quarta hipótese: PS+BE+CDU.

Contudo aquilo que me continua a surpreender é o facto de esta eleição ainda continuar em aberto e não estarmos apenas a discutir questões formais como qual o laranjinha que vai para as finanças e o azulinho que vai para a agricultura. Naquelas que, no papel, são as mais importantes eleições dos últimos anos, o português continua a evidenciar uma preocupante vontade em continuar a bater com a cabeça na parede. E talvez os problemas estejam mesmo aí: de tanta vez que a cabeça já bateu no cimento, perdeu noção do razoável e do racional.


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