E se abrissem o mercado às multinacionais?

O ministro do petróleo da Líbia, Shokri Ghanem, afirmou que acredita que o barril do petróleo venha a custar 200 dólares num futuro não muito distante. Se alguém tivesse dito isto há cinco ou dez anos atrás, quem teria acreditado?

Na semana passada o preço da gasolina aumentou, em Portugal, três vezes. Porquê? Os especialistas apontam a queda das reservas americanas como principal factor. Porém, não se pode dizer que essas reservas estejam num nível particularmente baixo. Mais, como a procura tem vindo a cair, a pouco acentuada quebra nas reservas não deveria ser motivo para tamanha agitação

Os principais acusados pela flutuação dos preços do crude são os especuladores, entidades que compram petróleo hoje para vender amanhã. Os fundos indexados que costumam comprar petróleo, fazem-no através de contratos de venda futura. Porém, como não lhes interessa manter e preservar o produto até ao momento da sua venda, preferem vender esses mesmos contratos quando se aproxima a altura da sua entrada em vigor. Na verdade, nunca chegam a tocar no produto. Servem de intermediários.

Por isso, em vez de procurarem reter o petróleo no mercado, à espera de uma baixa para vender a um preço elevado, o que interessa a estas firmas é vender as maiores quantidades de crude possível. Quanto mais venderem, mais lucram. Cai, então, por terra a ideia de que a culpa do aumento do preço dos combustíveis esteja associada a especuladores de mercado.

Se esses fundos indexados estivessem, realmente, interessados em vender o petróleo a um preço superior ao de equilíbrio, então não teriam quem o comprasse. Porém, não é isso que acontece. Não só essas empresas arranjam quem lhes compre os contratos, como fazem-no garantindo fantásticas margens de lucro.

A teoria económica tradicional sugere que o preço de futuro de um bem equivale à estimativa dos agentes do mercado. Estes, olhando para o estado de coisas actual fazem uma previsão para o futuro.

Mas, se a culpa não é dos especuladores, se não existe escassez de petróleo e se ainda existem poços por descobrir (atenção ao Brasil) por que motivo a gasolina está tão cara? Alguns economistas apontam o proteccionismo dos países produtores.

Olhando para países como a Arábia Saudita, o Iraque e o Irão vemos que o acesso aos seus poços está interdito aos países ocidentais. Estados como a Venezuela e a Rússia, apesar de a sua oferta ter vindo a decair, recusam a entrada de empresas estrangeiras na exploração do seu petróleo.

Ou seja, enquanto que a procura vai aumentando em países como a China e a Índia, cobrindo assim as quebras na procura nos outros países, a produção estagna. Melhor, enquanto que a procura cresce desmesuradamente, a oferta cresce a um ritmo mais lento. Solução? Abrir as explorações às multinacionais poderia ser uma boa solução, conseguindo aumentar a oferta e baixar os preços. Ou isso, ou apontar para os 200 $ por barril. Eu, cá, prefiro a primeira.


5 thoughts on “E se abrissem o mercado às multinacionais?

  1. «Por isso, em vez de procurarem reter o petróleo no mercado, à espera de uma baixa para vender a um preço elevado, o que interessa a estas firmas é vender as maiores quantidades de crude possível. Quanto mais venderem, mais lucram. Cai, então, por terra a ideia de que a culpa do aumento do preço dos combustíveis esteja associada a especuladores de mercado.»

    Phillipe, não é bem assim. Se o preço de amanhã for superior ao preço de hoje, compensa comprar hoje barato para vender caro amanhã. É isso que faz um especulador.

    (De notar que a especulação aumenta a procura hoje e diminui a procura amanhã. O efeito final é tornar a procura e os preços constantes).

  2. Coxos ( 🙂 ),

    Neste caso em concreto, se a acção dos especuladores tem desregulado o mercado é por uma situação mais simples: há falta de crude.

    Sabendo que a procura está a aumentar – Índia e China a ajudar – e que a oferta não está a acompanhar, os fundos adquirem os contratos hoje a um determinado preço, sabendo que amanhã já terão lucro se os venderem.

    Os especuladores operam no mercado do petróleo há imensos anos. A situação tornou-se mais grave desta vez, porque não há um acompanhamento entre procura e oferta, o que elimina qualquer possibilidade de manter os preços constantes e de se achar um equilíbrio.

    Forçosamente, se a oferta aumentasse os preços desceriam. Com, ou sem, especulação. E, para aumentar a produção, é necessário liberalizar o mercado desde a produção, desde o momento de obtenção do peteróleo na fonte.

    Repara que num mercado liberal, todos procuramos o que é melhor para nós. E, para os especuladores este é um estado de coisas bastante favorável. Não o é para o consumidor. Mas os preços não sobem pela especulação, sobem porque a oferta de petróleo não acompanha a procura. E, em casos de escassez, como diria o Petiz, há uns que ganham mais do que outros. Neste caso são os especuladores.

    PS: Deixa lá de comentar com a conta d’Os Coxos.

  3. Phillipe, a especulação não desregula o mercado. Pelo contrário, normaliza-o. A acção dos especuladores garante que o preço tenda a ser cada vez mais plano e com menos variações.

    Repara que sem especulação a procura de petróleo hoje diminuia, diminuindo o seu preço. Mas a oferta de amanhã também diminuia, aumentando o seu preço. Sem especulação, os preços aumentariam amanhã tudo o que estão a aumentar hoje. O choque seria abrupto e a transição muito mais custosa.

    Esta especulação faz parte da procura. A especulação é uma componente da procura de hoje e da oferta de amanhã. E por isso não faz sentido dizer-se que o «culpado» do aumento do preço do crude é a oferta que não acompanha a procura e não a especulação. É óbvio que o aumento de preço deriva de a oferta e a procura estarem desequilibradas, mas a verdade é que a especulação é um dos fenómenos que induz esse situação.

    Ah, e nota que qualquer um é potencialmente um especulador. Se pensas que o petróleo vai subir, compra fundos de investimento ligados ao petróleo. A especulação é acima de tudo um risco: caso estejamos a falar de uma bolha especulativa, quando esta rebentar os especuladores ficam todos nas lonas.

    Quanto ao segundo ponto, é natural que caso a oferta aumente os preços diminuam. Mas repara que, por acaso, a oferta até tem vindo a aumentar. Não aumenta tanto quanto a procura, mas aumenta. Vê por exemplo no site da EIA: http://www.eia.doe.gov/aer/txt/ptb1105.html (as tabelas seguintes têm valores para 2007).

    Mas mesmo que o mercado fosse «liberalizado» (um conceito um pouco estranho neste contexto, como explico de seguida), a oferta não aumentaria de imediato. Entre a descoberta de uma jazida e a extracção passam uns bons anos; depois há as dificuldades de transporte, os longos tempos de aquisição de material necessário à exploração, etc. A conclusão é que essa tal «liberalização», a ocorrer, apenas aumentaria a oferta (para além da taxa à qual ela actualmente cresce) dentro de uns bons anos.

    E não faz muito sentido falar-se de liberalização num contexto internacional. A liberalização acontece dentro das fronteiras políticas. É legítimo que o Estado não consinta que uma parte da sociedade utilize um monopólio para explorar a outra. Mas entre países não há essa autoridade superior à qual apelar. A «liberalização» que propões é algo como dizermos aos árabes: «vá lá, deixem as nossas empresas entrar aí para termos petróleo mais barato». Sabendo eles que o reverso da medalha é eles terem lucros mais baixos, compreende-se que torçam o nariz à coisa 😉

  4. Em relação à especulação, apenas coloquei a hipótese de haver desregulação em função daquilo que tinhas dito no comentário anterior.

    Sobre a produção, ou melhor, exploração do petróleo, acredito que a mesma poderia ser aplicada quer aos poços já existentes, quer aos que estão por descobrir.

    A acção das empresas internacionais nesse contexto específico, aumentaria a produção hoje e aumentaria as probabilidades de se manter uma produção em crescendo durante mais anos.

    Se tiveres em conta a produção em países como a Venezuela, verás que a mesma tem caído nos últimos tempos. Não porque haja pouco petróleo, mas porque se está a atingir a capacidade máxima de exploração – o que sobra, está mais fundo – para a maquinaria disponível. Com outros recursos técnicos, com outras condições ao nível da tecnologia, a produção aumentaria.

    E, um aumento da produção teria efeitos na baixa do preço do petróleo. E a aposta pela abertura desses mercados não só baixaria o preço do petróleo hoje, como seria um instrumento interessante para garantir a manutenção do crude a um preço mais baixo.

    Ah! Sobre isto: “Repara que sem especulação a procura de petróleo hoje diminuia, diminuindo o seu preço.”

    Por muito importante que a sua acção seja, sem especuladores os Estados continuariam a ter necessidade de petróleo. Teriam de o continuar a comprar. O perigo, creio, seria o da cartelização, sem haver agentes mais ‘neutrais’ a intervir no mercado para acertar preços, pois nesta altura quem determina o preço não são os exportadores. São os outros agentes do mercado. Especuladores incluidos.

    Mas, atenção, não é este um post contra a especulação. Como escrevo, eles são uma parte importante do mercado e fazem o seu papel. O problema, a meu ver, está noutro lado.

  5. Sim, claro. Se a oferta aumentar, o preço de longo prazo desce. O meu ponto é que a tua proposta não é uma opção política, porque depende da boa vontade dos exportadores de petróleo.

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